Migração do tráfico de drogas para o interior com a instalação das UPPs na capital, desenvolvimento econômico, especialmente relacionado aos portos do Açu e Barra do Furado — e ,na carona, outros empreendimentos —, investimentos tímidos e falta de planejamento nas estruturas policial, judicial e carcerária. Esses são alguns dos motivos que têm feito a população do Norte Fluminense vivenciar, perplexa,o aumento considerável dos índices de criminalidade nas últimas décadas,notadamente de alguns poucos anos para cá. Mais que isso, em uma conjuntura que é nacional, não local, a velha tática, que já se mostrou ineficiente, vide os resultados, de enxugar gelo, em uma tentativa tardia de (tentar) combater o problema no fim, não no meio ou, mais longe, seu início, com ações públicas, em parceria com a sociedade civil, no maior acesso às necessidades básicas do povo em educação, saúde, infraestrutura urbana, justiça social, oportunidades de aprendizado profissional e consequente maior oferta de trabalho com melhores condições e melhor remuneração.
Essa tem sido a tônica da questão, cantada há tempos pelos especialistas em segurança pública, sociólogos, antropólogos, organizações de direitos humanos e todos os envolvidos direta e indiretamente no quesito segurança. O discurso não muda muito. O que fica sempre abaixo das expectativas são as ações. Há quem faça, e muito, mas é inevitável conviver com a frustração da descontinuidade do trabalho quando deve ser finalizado por quem está na ponta, que tem de fato a caneta e as soluções práticas.
Não podemos muito mais, na condição de cidadãos, do que buscar agir em nosso cotidiano, seja de forma isolada — o que é mais que válido, a velha máxima de cada um fazer sua parte —,seja de forma coletiva, através da organização de grupos sociais e da necessária vigilância sobre a conduta dos nossos políticos. Mas não basta. Somos uma sociedade, e esta é uma autocrítica ao estilo luto mais por meus direitos do que assumo a consciência dos meus deveres, típico do brasileiro, historicamente recém saído de um regime de exceção e que tanto preza as liberdades individuais. Talvez falta ser mais que querer. Agir mais que reivindicar.
E isso tem tudo a ver com o problema da segurança pública, por mais que pareça uma analogia distante. Melhores cidadãos, pessoas mais solidárias, grupos mais engajados e temos a receita de um mundo melhor para todos.
Enquanto aprendemos a avançar neste processo, que não se constrói do dia para a noite, mas deveria (e poderia) ser menos lento que é, a hora é de debate seguido da busca de solução. Sem hiatos. Encontremos, pois, o modus vivendi para uma sociedade que quer mais respeito à vida, à propriedade, à cara conquista de ir e vir e, sobretudo, mais oportunidades decentes para que todos se sintam incluídos. O tema segurança pública é muito mais complexo, mas comecemos por destrinchá-lo para tornar cada etapa do desafio menos difícil de vencer: na base parece óbvio que é a vida à margem da dignidade que move o motor da violência.
Bruno Dauaire
advogado
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