Por Cesar Maia
Uma máxima – redundante – nos princípios básicos de gestão é que o primeiro passo para enfrentar uma crise é reconhecê-la. Em seguida, diagnosticá-la. E depois equacionar as ações para iniciar o processo de superação.
Os indicadores estão aí – dia a dia – em todos os níveis. A ocupação da rede hoteleira no carnaval caiu de 78% para 60% entre 2014 e 2015. A curva de crescimento de roubos é ascendente há alguns anos. As estatísticas de balas perdidas e assassinatos de policiais já ocupam com destaque o noticiário.
A inflação de 12 meses, em janeiro-2015, medida pelo IPCA, no Rio, foi a maior entre todas as capitais. A ironia carioca usa a expressão surreal. Mas quem paga a conta são as famílias. A tarifa de ônibus subiu mais que a inflação. E por aí vai.
A crise nacional desaba especialmente sobre o Rio de Janeiro, por suas raízes de antiga capital e suas condições específicas e afeta as finanças públicas – estadual e municipal. A queda no preço do barril de petróleo, de mais de 50%, impacta diretamente pela redução proporcional da receita dos royalties.
Segundo o secretário de desenvolvimento econômico, 1/3 do PIB do Estado do Rio depende do petróleo e derivados. Sendo assim, o PIB do Rio em 2015 cairá uns 10%. A crise na indústria automobilística não é só paulista, pega em cheio o sul do Estado do Rio. A crise hídrica atinge o Rio, associado com S.Paulo na bacia do rio Paraíba do Sul. O atraso da Usina de Furnas 3 para 2019 expõe riscos específicos em relação à energia elétrica.
O Turismo já está sendo afetado, seja pela crise econômica nacional, seja pelo retorno com ainda maior força da percepção de insegurança. Arrastões voltaram às manchetes, como em 1992. Os JJOO-2016 exigirão uma ocupação semelhante à Rio-92. Durante a Copa do Mundo, os Roubos –REGISTRADOS – nas delegacias da capital entre junho e julho somaram 12.662. Em 2013, nestes dois meses, somaram 9.347, crescendo 35,4%.
Só no Comperj, em Itaboraí, desdobramento da crise da Petrobras, foram demitidos 10 mil trabalhadores. Tanto o Estado como os Municípios entraram em programas de demissão e redução de gratificações. Os atrasos a fornecedores aumentam. E a tendência é crescente. A venda –em 2014- de R$ 5 bilhões de bens do Estado não poderá se repetir. As operações de crédito novas não poderão ser aprovadas. E as parcerias com o governo federal serão mitigadas pela crise fiscal.
A reversão dos problemas observada nos últimos anos, gerando otimismo, está sendo re-revertida. Os meios de comunicação buscam maximizar as boas notícias e minimizar as notícias ruins. Isso não ajuda, pois impede o “primeiro passo” numa crise: reconhecer o problema. E, com isso, impede também o segundo: diagnosticá-la. Os problemas fiscais no caso do Estado do Rio –hoje- não são apenas de fluxo de caixa conjuntural. Contêm vetores estruturais que não terão solução em menos de 3 ou 4 anos.
Todas as forças políticas e sociais saberão se somar a este reconhecimento e esforço. Mas sem que as autoridades reconheçam a gravidade dos problemas e ainda procurem com lastro, na publicidade, minimizá-los, não há por que cobrar das forças políticas e sociais ações convergentes. A mídia minimiza os problemas e dificulta as convergências.
0 comentários:
Postar um comentário