Por Murillo de Aragão, do Blog do Noblat
Fazer oposição é uma arte. Significa desmontar a situação e oferecer-se como alternativa viável. Real ou imaginária. Um governo pode não ir tão mal, mas se não tiver uma boa narrativa pode ser derrotado, sobretudo se a oposição for eficiente. Mesmo que se possam utilizar critérios científicos e metodologicamente testados, ganhar uma eleição continua sendo mais arte do que ciência. O consultor político João Santana, em especial, é um homem de grande sensibilidade para interpretar as tendências e os números. Durante a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, sua estratégia de comunicação foi soberba frente aos demais, meros coadjuvantes.
Há algum tempo, escrevi que a derrota de 2002 do PSDB foi o mesmo que Stalingrado para os nazistas. Os tucanos, provavelmente, nunca se recuperariam, ou demorariam muitos anos para se recuperar. Logo se completarão 16 anos longe do poder, considerando o segundo mandato da presidente Dilma. E ainda não aprenderam a ser oposição. Agora, no início do seu segundo mandato, parecem mais agressivos. Nada mais do que isso. Porém, não é o bastante.
Ser oposição significa explorar as deficiências da situação. No caso brasileiro, abundantes. Mas não pode se limitar a esperar que as deficiências do governo apareçam na imprensa. A oposição tem que trabalhar e criar agendas a partir de suas descobertas e interpretações, em vez de esperar a geração espontânea de escândalos, como nos últimos 12 anos.
Nossa oposição é frágil, apesar do peso e da experiência de seus nomes. Só que é uma oposição “part time”. Não opera 24 por 7, como deveria. Tampouco lança mão da moderna tecnologia de comunicação, nem ocupa os espaços de debate de forma sistemática. Pior, sequer tem uma narrativa que seja adequada às expectativas dos grandes segmentos do eleitorado. Fosse o contrário, ganharia as eleições.
A campanha de Aécio Neves (PSDB) foi pródiga na comunicação com o eleitorado mais abastado e de maior leitura. Nunca foi convincente ao mostrar preocupação social. Exibiu doses econômicas, mas não convenceu como agente de transformação social e, principalmente, de manutenção dos ganhos sociais. Foi presa fácil, apesar dos números apertados da vitória de Dilma.
É certo dizer que a campanha das oposições em 2014 beirou o ridículo, assim como em 2010 e 2006. Sem a imensa má vontade da sociedade com o PT e o próprio peso de Dilma como candidata, a derrota teria sido maior, e no primeiro turno. Aliás, a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) aqueceu uma campanha que teria sido muito mais morna.
Aécio Neves cresceu nos últimos 15 dias do primeiro turno por conta da demolição de uma candidata despreparada para chegar ao segundo turno: Marina Silva. Porém, o tucano não construiu a proposta adequada para neutralizar o poder da máquina do governo. Não construiu um discurso que fizesse frente ao fato inconteste de que o governo tinha, para a maioria da população, um programa mais convincente. Além do mais, foi um vexame ser derrotado – da forma que foi – em Minas Gerais, terra natal do candidato, e em Pernambuco.
Todos nós, analistas políticos, reconhecemos que a oposição saiu com mais musculatura das eleições. Com mais disposição e empenho. Porém, falta muito mais para se transformar em uma oposição que dependa mais de si mesma do que dos erros (abundantes) do governo para ganhar as eleições.
Imaginem, por exemplo, que Dilma escape sem sequelas do escândalo da Petrobras, o que é possível, e que o ministro Joaquim Levy faça a economia funcionar melhor, o que também é possível! É evidente que, nessas circunstâncias, ela será um forte cabo eleitoral em 2018. Assim, não se deve tomar como inevitável a incapacidade do governo de fazer seu sucessor. Mesmo que para disputar não tenha nomes fortes – além de Lula, este sim, caso candidato, com forte apelo eleitoral. Candidatos podem ganhar eleições. Boas narrativas também. É o caso de Dilma: do nada para a Presidência.
Se não se organizar de forma profissional e urgente, o PSDB pode ficar para trás e perder a primazia entre as forças de oposição. Sua sorte é que a maior oposição ao governo ocorre dentro das forças governistas. Assim, o PSDB não sofre concorrência feroz de outros partidos. O Rede de Marina ainda precisa se aparelhar. O PSB ainda não tem uma cara definida. No momento, sobra o PSDB, que ainda não desceu do “salto alto”.
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