Sindicato tem servido de trampolim político para militantes
O Globo
RIO - De SEP em CEP o Cepe vira Sepe. Essa dança de siglas, ostentada em caixa alta no site do Sepe, serve de resumo para a história do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro, que desde o mês passado, por conta de uma decisão da Justiça trabalhista (da 4ª Vara do Trabalho do Distrito Federal), está com o registro suspenso. A suspensão foi solicitada por outro sindicato da categoria — Uppes, União dos Professores Públicos do Estado —, reconhecido e registrado legalmente desde 1989.
Ou seja: não bastassem todas as dificuldades da profissão, os professores do Rio de Janeiro, historicamente uma massa de manobra política, têm dois órgãos de classe, coisa que a Constituição não permite.
O Sepe nasceu como SEP (Sociedade Estadual dos Professores) na segunda metade dos anos 1970, quando a ditadura então comandada pelo general Ernesto Geisel acenava com uma distensão lenta, gradual e segura do regime.
Liderada pelo professor de matemática Godofredo Pinto, a entidade lutava, com passeatas e greves, por salários e melhores condições de trabalho, tudo o que o Sepe exige hoje. Foi o primeiro movimento de classe a peitar a ditadura no Rio. O Estado do Rio de Janeiro, criado por decreto em 1975, tinha como governador (nomeado) o almirante Faria Lima, que, apesar da repercussão do movimento na imprensa, nunca reconheceu o grupo, recebido algumas vezes, no entanto, pela então secretária estadual de Educação, Myrthes Wenzel.
Em 1981, quando o novo estado já era governado por Chagas Freitas (também nomeado), Godofredo sinalizou com clareza aos seus liderados que suas pretensões não eram exatamente educacionais. Mudou a sigla — a SEP virou CEP (Centro Estadual dos Professores) —, deixou o PT e ingressou no PMDB, pelo qual foi candidato a deputado estadual já no ano seguinte, engatando uma carreira política que culminou com a prefeitura de Niterói, onde ficou de 2002 a 2008.
A luta dos professores ganhou novos líderes — que, igualmente, alçaram voos na política —, o CEP virou Cepe e depois Sepe, e as grandes reivindicações da categoria continuaram no ar. Hoje, além da polícia, o Sepe, Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (dominado por partidos políticos minoritários), tem de enfrentar a Uppes (o sindicato da categoria que a lei reconhece), numa luta que já dura anos e que ganhou complicações jurídicas ainda maiores por obra do ex-ministro do Trabalho Carlos Luppi. Foi ele quem, numa negociação política, concedeu ao Sepe o registro de sindicato da categoria, mesmo sabendo da existência da Uppes.
Tudo indica que a sigla do Sepe ainda tem uma estrada longa a percorrer. Na cobertura da imprensa da atual luta dos professores, está difícil encontrar, na linha de frente, nomes de líderes que ao longo das últimas décadas se elegeram com o voto do magistério.
Apesar de o Sepe, em seu estatuto, se declarar independente de partidos políticos, sua diretoria central inclui várias pessoas que já disputaram cargos políticos e que militam em siglas como PSTU. Vera Nepomuceno (da Diretoria de Imprensa), por exemplo, foi candidata a vice-prefeita em 2008.
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