LOCAUTE – algumas respostas
Tivemos um locaute em Campos. Talvez o primeiro que saiu dos livros em toda a História. O locaute evoluía para uma espécie de “queima total” no serviço de transportes, porque notícias davam conta de que se planejavam parar as vans e os táxis. Medidas duras foram tomadas, protagonizadas pelo Município e pelo Ministério Público, numa atuação integrada que nada mais fez do que lembrar a harmonia entre os poderes preconizada no texto constitucional desde 1988.
Os dias foram intensos. Ao Município e ao Ministério Público Estadual, desde o início somaram-se a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, mobilizando imenso contingente, desde a apreensão dos ônibus nas garagens, até os últimos dias da paralização.
Neste ínterim, foi ajuizada uma ação cautelar, que teve o aval do Poder Judiciário, durante o plantão forense, sendo dadas buscas nas garagens por oficiais de Justiça, acompanhados do Ministério Público e do aparato policial necessário ao êxito de tais medidas, afinal de contas estava-se lidando com um segmento tradicionalmente avesso ao princípio da autoridade, porque ainda crente na supremacia do poder econômico. Paralelamente, a Justiça do Trabalho declarava a paralisação ilegal, determinando a retomada do serviço, ordem até então ignorada pelo movimento ao final desmascarado. Interveio o Ministério Público do Trabalho, visando a mediar a solução, e o Ministério Público Federal, para apurar a prática, nada menos, do que de crime contra a segurança nacional. E, por derradeiro, somou-se a Polícia Civil, ante a flagrância de crimes contra a organização do trabalho e a segurança dos meios de transporte.
Como se vê, formou-se uma espécie de Força-Tarefa espontânea, cada um no âmbito de suas atribuições, comprometidos todos com a população de Campos, para encontrar uma solução para a crise gerada pelo conluio entre patrões e empregados, demonstrado fartamente pela documentação apreendida nas garagens e divulgada para a Imprensa, mas desde o início evidente para aqueles que conseguem enxergar alguns palmos adiante do nariz.
Ainda assim, todavia, viu-se uma também intensa guerra de informações e contrainformações nos blogs e redes sociais. Ali, anônimos comentavam posts de figuras públicas hoje no ostracismo, novas e antigas figuras que tentam ser públicas e obtêm resultados pífios em suas aventuras, além dos especialistas que sempre surgem nesses momentos de crise, para demonstrar seu inexpressivo conhecimento, falar sobre o que não sabem, desviar o foco das atenções e propor soluções para problemas que não conhecem. Todos querendo tirar algum tipo de proveito da situação. Claro que não se pode levá-los a sério, até porque suas vozes só ganham eco entre si.
Recebi nesses veículos de informação instantânea elogios e críticas de todas as espécies, muitas inclusive de baixo nível, típicas daqueles que julgam os outros pela imagem que fazem de si próprios, ou daqueles que julgam os outros pela inveja que suas próprias limitações lhe impõem. Agradeço a todos. Quanto aos elogios, não me envaidecem. Quanto às críticas, todas elas, não me preocupam, não me tocam, nem me despertam qualquer atenção pois, vindo de quem vem, me são absolutamente irrelevantes.
Afinal de contas, nenhum desses críticos, que sabem bem de quem estou falando, andam de ônibus.
Marcelo Lessa Bastos
Promotor de Justiça
2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva/Campos
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