Por Sérgio Dávila, Folha de São Paulo
SÃO PAULO - Em seu livro mais recente, "Número Zero" (Record, 2015), Umberto Eco trata do editor de uma publicação que nunca vê a luz do dia –apenas monta dossiês apócrifos, como os que a cada dois anos reaparecem nas eleições brasileiras, e com eles faz chantagem em busca de dinheiro.
Aos 83 anos, o autor de "O Nome da Rosa" está preocupado com o predomínio do que chama de "máquina de lama" no jornalismo profissional. Acredita que a função da imprensa séria será cada vez mais ajudar seus leitores a discernir o trigo do joio, que se encontra amplificado e tratado como verdade na internet.
O escritor italiano não tem boas palavras para as redes sociais. Há um mês, ao receber o título de doutor honoris causa na Universidade de Turim, disse que "a mídia social dá voz a uma legião de imbecis, que antes falava apenas no bar depois de beber uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".
"Hoje eles têm o mesmo direito de palavra de um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis", afirmou, no discurso de agradecimento. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade."
As palavras soam duras e reducionistas. O saldo da popularização da internet e da facilidade de divulgação de opiniões que dela advém é mais positivo que negativo. Hoje, qualquer pessoa com uma conexão ou um celular diz em poucos segundos o que pensa sobre qualquer tema e, em países como a Itália ou o Brasil, sem censura.
O problema é que, assim como nos bares, no Facebook, no Twitter e no Instagram os imbecis fazem mais barulho que os sensatos.
E –como mostram episódios recentes de intolerância e racismo envolvendo os jornalistas Zeca Camargo e Maju Coutinho, a deputada federal Mara Gabrilli, o apresentador Jô Soares e a presidente Dilma Rousseff, em sua passagem há duas semanas pela Universidade Stanford– parecem ter mais admiradores.
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