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Folha da Manha entrevista Garotinho


O Jornal Folha da Manha entrevistou o candidato ao governo do Rio, Anthony Garotinho. Leia abaixo. 

Folha da Manhã – Nas últimas semanas a equipe de fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) apontou irregularidades e apreendeu materiais de sua campanha em Campos e no Rio. Além disso, o Centro Cultural que leva o seu nome foi lacrado após os fiscais encontrarem fraldas e uma listagem com nomes de grávidas. O senhor considera que tudo não passa de perseguição ou admite que membros do seu grupo possam ter cometido alguns excessos?

Anthony Garotinho – O TRE está atuando de maneira intensa e já recolheu material de todos os candidatos, na capital e no interior. E às vezes joga para a mídia. Claro que, nesse cenário, há espaço para excessos. Mas, é preciso entender precisamente o que é abuso ou crime eleitoral e o que é campanha. No caso de Campos não é diferente. Outra questão é que numa movimentação tão grande como uma campanha eleitoral estadual ninguém consegue controlar todas as pessoas o tempo todo.

Folha – Em Campos, foram encontrados materiais de campanha do seu grupo em uma Unidade Básica de Saúde, que chegou a gerar a exoneração da diretora, e também em uma empreiteira que presta serviços à Prefeitura, que é governada pela sua esposa. Como um crítico ferrenho da mistura entre público e privado, qual a sua posição sobre esses episódios?

Garotinho – Continuo criticando. Mas, as questões sobre material encontrado nesses lugares devem ser respondias pelos responsáveis. Como eu posso ser responsabilizado por ações individuais de outras pessoas. Seria um absurdo!

Folha – Durante entrevista ao RJ TV o senhor afirmou “estranhar” a condenação por formação de quadrilha e apontou uma suposta ligação entre o irmão do juiz que o condenou e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB). A Justiça Federal, por meio de nota, lembrou que a sentença está no STF, pois o Ministério Público Federal recorreu para aumentar a pena. A nota também informou que o irmão do juiz, um policial, passou pelos governos Marcello Alencar, Garotinho, Benedita e Rosinha. Afinal, quem tem razão: o senhor ou a Justiça Federal?

Garotinho – Essa ação, assim como tantas outras, faz parte de um plano elaborado e executado por Cabral e seus seguidores. Hoje ninguém tem dúvidas do massacre que eu sofri na mídia por puro preconceito em relação a minha forma de governar, priorizando os mais pobres, o que assusta os poderosos cheios de interesse no orçamento do Estado. A verdade é que eu recorri da sentença que me obrigou a doar cestas básicas. Agora acompanhe meu raciocínio. Como posso ser acusado por formação de quadrilha e obrigado a doar cestas básicas ? Fica claro que não há nada no processo que me envolva nisso. Mas, assim mesmo, tentam prejudicar minha imagem. 

Folha – Em entrevista ao RJ TV 2ª Edição, da TV Globo, o senhor se recusou a responder a pergunta de como conseguiria cumprir a promessa de, se eleito, construir 90 quilômetros de trilhos, se em quase oito anos de gestão o senhor e Rosinha haviam construído menos de dois quilômetros. Segundoa emissora, informações passadas pela concessionária que administra o metrô deram conta de que a distância entre as estações Cardeal e Arcoverde é de 1.939 metros. O senhor também se recusou a falar sobre compras de trens para o metrô. Afinal, independentemente da compra de trens, quantos quilômetros de trilhos foram construídos no período em que o senhor e sua esposa foram governadores do Estado?

Garotinho – Todo mundo sabe das perseguições que sofro das Organizações Globo. Só estou conseguindo dar entrevistas na emissora, porque ela é obrigada a dar esse espaço a todos os candidatos para cumprir a lei . Você sabe, eu não recuso responder a nada. Na Globo o jornalista quer falar mais que o entrevistado. Na verdade, compramos 20 trens coreanos novos, ao custo de 100 milhões de dólares, com sistema de refrigeração computadorizado e capacidade para transportar 1.300 passageiros. No governo Garotinho, o metrô do Rio chegou a Copacabana, na Zona Sul, com a construção do trecho entre a Praça Cardeal Arcoverde e a Rua Siqueira Campos. E no governo Rosinha foi inaugurada a Estação Cantagalo, também em Copacabana. Em nossas administrações, a utilização do Metrô e Supervia cresceu 30,2%. Essa é a verdade . Agora Vou levar o metrô até a Baixada Fluminense usando o trajeto da Via Light, seguindo da Pavuna para São João de Meriti , Nilópolis, Belford Roxo e Nova Iguaçu. Vamos construir ainda a linha três, que liga Itaboraí , São Gonçalo e Niterói. 

Folha – Durante esta campanha o senhor tem criticado supostos benefícios para os empresários de ônibus, como a redução do IPVA. Por outro lado, mesmo admitindo que existem “bandidos” no comando das vans, promete fortalecer o transporte alternativo. Porém, em 2006, durante o governo Rosinha, o senhor enfrentou protestos e parte da classe dizia: “o Garotinho quer acabar com as vans”. O que mudou entre 2006 e 2014?

Garotinho – No meu governo os empresários de ônibus não vão dar as cartas. Os profissionais legalizados do transporte alternativo, muitos chefes de família, vão poder trabalhar. Eu fui o primeiro governador do Brasil a regulamentar o transporte alternativo. Como já disse em ou-tras oportunidades existem bandidos em todas as áreas, até na imprensa, por exemplo. Então, pode ter sim, esse tipo de gente infiltrado nas vans. Mas, ninguém pode condenartoda uma categoria em razão de alguns. Quem cassou essas autorizações e perseguiu esse setor foi o governo Cabral/Pezão. As vans, devidamente regularizadas, prestam um bom serviço nas comunidades onde os ônibus não chegam. Mas para além das vans, vou investir como disse no Metrô subterrâneo, no de superfície, nas Barcas e principalmente reavaliar essa relação do governo com os empresários de ônibus, que atualmente estão mandando nas políticas para esse setor e impedindo o desenvolvimento de outras alternativas de transporte público. 

Folha – Em 2008 a campanha da então candidata Rosinha afirmava que iria acabar com a “farra das terceirizações” do governo Mocaiber. Agora, em 2014, o senhor usa um discurso semelhante e critica as terceirizações no Governo do Estado. Porém, na prática, as terceirizações continuam fortes em Campos. Inclusive, a Prefeitura trava uma batalha jurídica para não informar ao vereador Rafael Diniz (PPS) quantos são os terceirizados. Como garantir que o senhor não vai repetir no Estado o que ocorre em Campos?

Garotinho – A terceirização é necessária ao serviço público. Todo mundo reconhece. O que não concordamos e condenamos é o excesso e o que é ilegal. Concurso público é o melhor caminho para termos uma elite de servidores capacitados a desempenhar a sua função e bem atender à sociedade. Contratamos mais de 75 mil servidores estaduais, por meio de concursos públicos, ou seja, cerca de 30% do quadro total do funcionalismo público ativo, que em 2006 era de mais de 236 mil pessoas. Essa meta não tem fim. Tem que ser um esforço contínuo. Já o Governo Cabral-Pezão faz uma farra de contratações, chegando a terceirizar mão de obra em setores delicados como em saúde, hoje criticada também pelos próprios médicos. Essa farra vai terminar.

Folha – Em seu programa de governo o senhor promete “implementar medidas para tirar do Rio de Janeiro o título de pior Ideb do Sudeste do país”. Porém, quem tem o título de pior cidade do estado no ranking do Ideb é o município de Campos, governado pela sua esposa nos últimos seis anos [a pergunta foi feita com base na Ideb de 2012, antes da divulgação do novo índice de 2013, na sexta, no qual Campos evoluiu de último para antepenúltima pior educação básica entre os 92 municípios fluminenses]. Como fazer em todo o estado algo que seu grupo não consegue em Campos?

Garotinho – Todos sabem o estado em que estava a Prefeitura de Campos. A recuperação de estruturas públicas tão complexas como a educação não se faz do dia para a noite, depois de anos de abandono. E Rosinha assumiu esse compromisso de frente. Nunca se investiu tanto em educação como agora. É só fazer uma rápida visita nas creches modelo e escolas construídas no atual Governo. No Estado também vamos recuperar o tempo perdido. Educação vai ser uma das prioridades, como aprendemos com Brizola e Darcy Ribeiro.

Folha – Uma de suas promessas é construir 40 mil casas populares em quatro anos, sendo 10 mil por ano. O projeto é parecido com o programa habitacional Morar Feliz, cuja promessa da prefeita Rosinha era fazer 10 mil casas nos primeiros quatro anos de sua gestão em Campos. No entanto, em seis anos de governo pouco mais da metade foi entregue. Qual será o diferencial do seu governo, se eleito, para entregar em um ano a mesma quantidade de casas que a sua esposa prometeu en-tregar em quatro e não conseguiu?

Garotinho – Você não pode comparar a estrutura do estado com a do município, começando pela grande diferença do orçamento. Mesmo assim, Campos é o município que está executando o maior programa habitacional do Brasil. Quem atrasou o Morar Feliz foi a oposição, que tentou barrar de todas as formas o início da construção das casas, com ações na Justiça. Perderam todas. Vou implantar uma ampla política habitacional no Estado. Além de construir 40 mil casas, vamos viabilizar projetos de mutirão, incluindo material de construção de habitação populares, seus res-pectivos projetos de saneamento e urbanização das comunidades.

Folha – O senhor é um crítico do chamado “bacanal eleitoral”, que une partidos bem diferentes apenas por mais tempo de TV ou cargos nos governos. No entanto, em Campos, 10 partidos que no estado caminham com Pezão (PP / PSC / PTB / PTN / DEM / PSDC PHS/ PMN / PTC / PSDB) estão ao lado do governo Rosinha. A versão municipal da “suruba” está liberada?

Garotinho – Você está enganado. Quem usou o termo bacanal eleitoral foi o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Aliás, um termo que pode caracterizar o que acontece entre eles. Aqui em Campos, a eleição municipal não tem vínculo com outras eleições a que você se refere. No caso deles, foram feitas alianças de puro interesse, em torno de nomes, com linhas programáticas completamente diferentes.

Folha – Caso o senhor não vença a eleição, esses partidos com “vida dupla” poderiam abandonar o barco e mudar a configuração do tabuleiro político na Câmara de Campos?

Garotinho – Não trabalho com essa hipótese. Com a ajuda do povo, vamos vencer as eleições.

Folha – O senhor diz que a dívida do Estado, que em 2006 era da ordem de R$ 41 bilhões, hoje está em mais de R$ 80 bilhões e, em sua opinião, alcançará os R$ 100 bilhões até o final da atual administração. Quais são as suas propostas para tirar o estado do “vermelho”?

Garotinho – Quando assumi o governo do Estado em 1999 a renegociação que fiz da dívida estadual foi considerada a melhor em todo país. E olha que na época o presidente era o Fernando Henrique e eu um governador de oposição. Mas trabalhamos de forma séria e técnica e alcançamos o sucesso. Agora a situação é pior. Se de Marcelo Alencar eu peguei um Estado destruído, de Cabral e Pezão vou assumir um Estado destroçado. Muitos falam dessa parceria do governo federal com Cabral e Pezão. Mas, a verdade é que toda essa montanha de dinheiro que veio para o Rio foi na base de empréstimos e que gerou essa dívida astronômica. Cabral não governava, tanto que virou piada no Rio, e Pezão só atendia os interesses das grandes empreiteiras. Isso vai acabar. O Rio vai ter governador de direito e de fato, que vai governar olhando as prioridades e atento às contas do Estado. É difícil, mas vou recuperar.

Folha – Alguns adversários insinuam que o senhor pretende acabar com as UPPs. Porém, o senhor tem dito que fará reformulações. Quais são as suas propostas para a área de Segurança Pública?

Garotinho – Não é verdade. É invenção de Cabral e de Pezão. Nunca disse que vou acabar com UPP. Mas, só UPP não combate a violência. Por isso, vou colocar policiamento ostensivo nas ruas, porque é isso que faz baixar os índices de criminalidade. O policial tem que estar na rua e não aquartelado como acontece hoje. No meu governo usei a inteligência para enfrentar a criminalidade e criei as Delegacias Legais, que é um exemplo para o país. Agora, também vou inovar, criando o Batalhão de Defesa Social, onde teremos além das forças policiais, defensores públicos, assistentes sociais, curso de pré-vestibular social e outros programas sociais que integrem a polícia com a comunidade. Vamos também melhorar a formação do policial, que hoje com apenas seis meses de treinamento é colocado na rua sem o preparo necessário. E vamos, ainda, ainda aumentar o efetivo da Policia Militar.

Folha – Na área do Meio Ambiente o senhor fala em combater a poluição no rio Paraíba do Sul. Quais seriam as estratégias para preservar o Paraíba, já que a água está cada vez mais valiosa e tem gerado até embates entre estados?

Garotinho – O rio Paraíba do Sul atravessa três estados. É vital para todos eles. O que precisamos, efetivamente, é cumprir a legislação e as diretrizes da Agência Nacional de Águas, mobilizando o apoio de toda a sociedade. É preciso aumentar o peso político do Comitê das Bacias Hidrográficas, planejar e intensificar ações coordenadas. Vou fazer a minha parte, implantando o maior programa de saneamento já visto no Estado. Quero garantir água de qualidade para quem ainda não tem e investir para a universalização do saneamento, transformando o Estado do Rio em exemplo e modelo para o Brasil.

Folha – A última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, mostra sua liderança no primeiro turno, mas aponta derrotas no segundo turno em duelos com Pezão ou Crivella. Qual é a sua leitura sobre a pesquisa?

Garotinho – Já dizia o craque campista Didi: “Treino é treino, jogo é jogo”. Resultado pra valer em eleição, a gente só tem nas urnas. Estamos todos cansados de ver e constatar erros das pesquisas e a tentativa de indução do eleitor, através da manipulação de dados visando justamente criar falsas expectativas. 

Folha – A pesquisa Datafolha também mostra que a sua rejeição continua sendo a maior entre os candidatos. Não corre o risco de a eleição estadual repetir as derrotas do seu grupo político em 2004 e 2006, em Campos, quando Geraldo Pudim venceu no primeiro turno e foi derrotado duas vezes no segundo turno?

Garotinho – Não existe eleição igual. Todas são diferentes. Em cada uma delas há sempre fatos mais marcantes. O que temos que entender é o sentimento do eleitor, as suas expectativas, os seus desejos e as suas necessidades. Em campanha nas ruas, em contato direto com o povo, sabemos que não só somos reconhecidos e estimados, como continuamos na direção certa ao saber de que lado estamos. E esse lado é ao lado do povo. Sem esquecer que para ser bom, tem que ser bom para todos.

Folha – Não é novidade que um de seus sonhos é um dia chegar à Presidência da República. Com a possibilidade de governar o Estado mais uma vez, o senhor pretende da margem à realização desse sonho, como fez em 2002?

Garotinho – O meu projeto é voltar a ser o melhor governador do Estado do Rio. Quero fazer um governo mais humano, governando principalmente para os que mais precisam. Minha participação na eleição para presidente em 2002 só me orgulhou. Tive mais de 15 milhões de votos em todo país, um resultado que poucos políticos conseguiram.

Folha – Quais são as principais diferenças entre o Anthony Garotinho que se elegeu governador em 1998 e este que lidera as pesquisas em 2014?

Garotinho – A experiência. E conta muito. Afinal já fui governador, prefeito duas vezes, deputado, secretário de Estado, candidato a presidente da República com mais de 15 milhões de votos... Enfim, a vida vai nos amadurecendo e aprendemos sempre mais com ela. E em meu caso, é essa experiência acumulada e comprovada que estamos colocando à disposição do povo, para governar para quem precisa. Mas, sem esquecer que, para ser bom, é preciso ser bom para todos.

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