O deputado federal Anthony Garotinho concedeu uma entrevista ao jornal O Diário. Leia baixo.
O Diário – O senhor tem se desdobrado na luta para evitar que o Estado do Rio de Janeiro, maior produtor de petróleo e gás do país, seja “garfado” nos royalties. Considerando o que diz a Constituição Federal, o Congresso Nacional “rasga” literalmente a Carta Magna nesse episódio, primeiro ao aprovar o projeto de lei que muda as regras de distribuição, depois, nas articulações para tentar derrubar os vetos da presidente Dilma Rousseff à nova lei. O embate faz lembrar a passagem bíblica em que Davi e Golias se enfrentam e o gigante é derrotado. O senhor acredita que o resultado também possa vir a ser o mesmo, com a minoria vencendo a maioria?
Anthony Garotinho – Não acredito que, tanto no Senado quanto na Câmara, haja ambiente institucional para atropelar a decisão do Supremo concedida pelo ministro Luiz Fux, que obriga a votação por ordem cronológica dos mais de três mil vetos existentes no Congresso. Portanto, creio que essa matéria, embora desperte grande interesse em senadores e deputados dos estados não produtores de petróleo, terá dificuldades para ser votada este ano. De qualquer maneira, estamos vigilantes.
OD – A postura do governador Sérgio Cabral diante dessa questão dos royalties e de outras de inte-resse do Estado do Rio de Janeiro tem sido bastante criticada pelo senhor. Há quem entenda como crítica sistemática de quem estaria de olho na sucessão estadual. Por outro lado, a interpretação é que o senhor estaria agindo com coerência. Qual das duas avaliações procede?
AG – Tenho acompanhado, mês a mês, a arrecadação do governo estadual. É meu dever como deputado federal do estado que me concedeu cerca de 700 mil votos estar ciente do que se passa com as finanças públicas. Posso assegurar que a situação é dramática. O estado do Rio de Janeiro nunca esteve tão dependente das receitas do petróleo e ficará ainda mais nos próximos meses. O governador Sérgio Cabral cometeu muitos equívocos em sua política tributária, como, por exemplo, conceder incentivos fiscais a termas, ao cabeleireiro da sua esposa e outras “farras” que sangraram as contas públicas. Por outro lado, a segunda maior arrecadação de ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] do estado vem das contas de luz. Como haverá redução no valor das tarifas, haverá, consequentemente, queda na arrecadação do imposto. E as prefeituras devem ficar atentas.
OD– Que avaliação o senhor faz das bancadas do Estado do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados e no Senado?
AG – A bancada federal conseguiu o que parecia impossível. Conseguiu conter o “rolo compressor” de deputados que compõem a bancada dos estados não produtores de petróleo, mais de 450 contra apenas 56 do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Para se ter ideia, no Senado esse projeto foi aprovado em quinze dias. Já na Câmara, está desde o final de 2011 e estamos conseguindo segurar a discussão.
OD – A pausa na questão dos royalties, criada a partir do recesso parlamentar, é suprida por duas pautas também polêmicas, em que o senhor aparece com destaque nos focos. Uma é a eleição para presidência da Câmara; outra a escolha do líder do PR na Casa. Quais as chances reais de o senhor vir a ser o indicado pelo seu partido?
AG – Tenho assinaturas de 29 dos 39 deputados do PR para que eu seja o líder do partido na Câmara. Não pedi a ninguém para assinar. Os parlamentares é que entenderam que o meu nome é o mais adequado, pelo conhecimento que desenvolvi nesses primeiros dois anos de mandato sobre a Constituição e o Regimento Interno da Câmara. Liderar uma bancada que tem quase 10% dos parlamentares da Casa vai ser uma honra para mim, afinal, é o colégio eleitoral de líderes que decide todos os assuntos que serão levados à votação.
OD – O senhor se considera com tanta força assim, ao ponto de o Planalto temê-lo na liderança do PR? O que está, na verdade, por trás de toda essa temeridade ao seu nome?
AG – Não creio que as declarações atribuídas a Dilma Rousseff sejam dela ou de qualquer dos seus ministros das articulações políticas. Meu posicionamento na Câmara tem sido de equilíbrio e independência. Quando as matérias, na minha visão, beneficiam o conjunto da sociedade voto a favor, do contrário, voto contra. Mas, agora na condição de líder da bancada, toda vez que houver uma votação terei, antes, que reunir meus colegas e debater o tema com eles. Você não lidera você mesmo e sim um grupo, por isso, precisarei ouvir a opinião de todos do meu partido.
OD– Não há dúvida de que o senhor seja um dos mais críticos adversários do governo Sérgio Cabral, talvez até o único em potencial hoje, mas a reciprocidade não parece verdadeira. O governador estaria sem argumentos para rebatê-lo ou guardando munição para tentar detoná-lo no período de campanha eleitoral?
AG – Cabral tem um governo baseado apenas em um assunto: prender. Assim mesmo, essa política de ocupação de território não prende bandidos, apenas os transfere de lugar, de municípios. Veja, por exemplo, como a violência cresceu em Campos, Macaé, Região dos Lagos e outras áreas do estado do Rio. Na verdade, Cabral não critica meu debate porque lhe faltam argumentos para fazê-lo.
OD – Dizem que política é a arte do impossível. O senhor e Sérgio Cabral já foram aliados. Depois que o elegeu governador pela primeira vez, em 2006, os senhores romperam. Em que circunstâncias poderiam voltar a caminharem juntos?
AG – Acho muito difícil, diria mesmo pouco provável, qualquer reaproximação com Sérgio Cabral Filho. As maldades que ele fez foram pessoais, atingiram a mim e a Rosinha [esposa do deputado e prefeita do município de Campos]. No campo político não digo que seja impossível uma reaproximação, porém, quando as coisas invadem o campo pessoal fica difícil.
OD – O senhor tem falado em pesquisas que o colocam na ponta em simulações ao governo, com Lindbergh aparecendo em segundo e o nome apoiado pelo governador Cabral (o vice-governador Pezão ou o secretário de Segurança Beltrame) em posições inexpressivas. Que pesquisas são essas?
AG – Essas pesquisas estão disponíveis para o grupo do governador fluminense, que acompanha mês a mês, através de amostragens, a avaliação do seu governo e desempenho de quem pretende lançar candidato à sua sucessão. Obviamente, procura saber também sobre os concorrentes. O senador Lindbergh Farias, do PT, da mesma forma, trabalha com pesquisas. Nenhum deles tem duvidado ou contestado que eu esteja liderando nas projeções para o governo do Estado, com números que variam de 35% a 38%, seguido por Lindbergh, que tem entre 12% e 14%, enquanto o vice-governador Pezão varia de 5% a 7%. No entanto, ninguém vai ganhar uma eleição simplesmente por estar na frente das pesquisas agora. Faltam dois anos para a eleição e, até lá, todos terão que trabalhar muito. Eu, por exemplo, quero trabalhar para, caso a convenção do meu partido opte pelo meu nome, vencer no primeiro turno.
OD – Em todas as pesquisas sobre credibilidade dos políticos brasileiros os resultados não têm sido satisfatórios. As exceções são raras. O resultado do julgamento do mensalão seria um indicativo forte de que a moralidade pública está ganhando força? O senhor acredita que esteja ai um forte indicativo para que o Brasil seja “passado a limpo”?
AG – Creio que sim. O mensalão arranhou bastante a imagem do PT e fortaleceu na população o sentimento de que ela foi enganada. Mas temos que ressaltar que bons e maus não fazem parte apenas do universo político. Eles estão em todos os segmentos da sociedade, onde existem aqueles que agem corretamente e os que se comportam de forma desonesta. Acredito, sim, que um dia o Brasil possa ser “passado a limpo”.
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