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Em crise nas UPPs, polícias de Pezão matam o dobro das forças de SP


Do R7

A taxa de letalidade das polícias do Rio de Janeiro equivale hoje ao dobro do índice de mortes em supostos confrontos registradas pelas forças de segurança do Estado de São Paulo, segundo levantamento feito pelo R7 com base em dados divulgados pelas secretarias de Segurança Pública dos respectivos Estados. De 2013 para 2014, as mortes em confronto com as polícias fluminenses aumentaram 46% (entre janeiro e agosto), contrariando tendência de queda verificada desde 2008, quando a política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) passou a ser adotada.

No ano (sem considerar setembro e outubro, cujos dados não foram divulgados), o Rio de Janeiro registrou 2,34 mortes por 100 mil habitantes, enquanto no Estado paulista o índice foi de 0,97. Em São Paulo, foram 431 mortes em confrontos. Entretanto, a população paulista é quase duas vezes maior que a fluminense, o que explica a taxa de letalidade do Rio ser pior. O índice de letalidade da polícia do Rio de Janeiro é maior mesmo tendo São Paulo registrado o semestre mais letal dos últimos dez anos.

O aumento dos chamados autos de resistência (termo usado pela polícia para mortes em confronto) acontece num momento de recrudescimento da violência em comunidades ocupadas. Moradores relataram ao R7 que tiroteios voltaram a ser rotina em áreas de UPPs. A Polícia Militar diz que, desde janeiro passado, traficantes tentam retomar territórios e desestabilizar o programa de UPPs.

Especialistas ouvidos pelo R7 apontam a necessidade de ajustes nessa política e na formação dos soldados fluminenses. Para Marcos Luiz Bretas, professor do Instituto de História da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a reação do tráfico está relacionada à perda de lucro com a venda de drogas. Autor de livros sobre a história das polícias no Estado, ele diz acreditar que, antes de ser expandido, o modelo de UPPs deve ser consolidado e estabilizado. Bretas ainda lembrou que, aliada à garantia de segurança, o Estado precisa investir nas áreas de saúde, educação e saneamento nas comunidades ocupadas.

— Os confrontos nas comunidades criam mal estar [entre a população e os PMs] que, num certo momento, tinha refluído. Mortes por bala perdida começaram a reaparecer.

O ex-secretário nacional de Segurança Pública José Vicente Silva questiona a formação e supervisão dos PMs no Rio. Ele pontua que o PM paulista é formado em dois anos, enquanto o fluminense tem sete meses de formação, segundo a PM do Rio. Para o professor do Centro de Altos Estudos de Segurança do Estado de São Paulo, a urgência na formação de PMs tendo em vista as UPPs tem como reflexo perda em qualidade. O Rio tem 48 mil PMs, sendo que 9.500 agentes atuam em UPPs.

— Vi recentemente no noticiário que PMs do Rio perseguiam um veículo e houve troca de mais de 20 tiros na rua. Não se troca tiros com bandidos em via pública. É preferível deixar um bandido fugir do que arriscar a vida de inocentes. O policial só atira em duas circunstâncias: salvar a sua vida e a vida de terceiros.

Mortes de PMs

As mortes de PMs são outro dado preocupante. Até agosto deste ano, 12 policiais haviam sido assassinados em serviço. No mês seguinte, Uanderson Manoel da Silva, de 34 anos, foi o primeiro comandante de UPP a ser morto em confronto. Na comunidade Nova Brasília, que integra o Complexo do Alemão, Silva foi atingido por um tiro no tórax durante tiroteio com traficantes.

Para o coronel reformado da PM, o sistema de supervisão do trabalho policial no Rio é frágil. Silva cita o modelo de São Paulo em que todo contingente sai às ruas com dois tenentes permanentes, enquanto no Rio os PMs trabalham por escala e as equipes podem variar. Para Silva, o modelo fluminense não cria vínculos do supervisor com o pelotão. Ele defende a revisão do patrulhamento e da proteção policial.

— Todo aumento de letalidade é muito preocupante. Tem de fazer uma revisão geral de política de segurança, de treinamento, supervisão e analisar se houve excessos.

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