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Bispo incita fiéis à boca de urna por Crivella


RIO — Inflamado, o bispo Júnior Reis conduziu o culto da noite de quarta-feira, a quatro dias das eleições, na Catedral da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) de Nova Iguaçu, com ataques ao governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB) e, na mesma medida, pedindo votos para o candidato ao governo pelo PRB, Marcelo Crivella. O líder incitou também os cerca de 300 fiéis presentes a realizarem boca de urna.

— O principado do inferno é que comanda o estado, por isso que o estado está nessa situação que está. Como o rapaz lá perguntou, cadê o... Como é que chama? O Amarildo, Pezão? Aí, o Pezão vai e ri. Então, você vê que eles ficam rindo porque eles são os principados do demônio, que atuam agora no governo, no presidencialismo — prega Júnior Reis, citando o debate promovido pela TV Globo com os principais candidatos ao governo do estado, na última terça-feira. Na ocasião, Pezão deu uma risada logo após a pergunta feita pelo candidato Tarcísio Motta (PSOL) sobre o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza.

Com 800 mil habitantes, Nova Iguaçu é o quarto maior colégio eleitoral do Rio, é um dos mais fortes redutos eleitorais do senador e bispo licenciado da Iurd. Durante sua pregação, Júnior Reis conclamou os evangélicos para se reunirem domingo, às 9h30m, na catedral, para o grupo fazer boca de urna em favor dos candidatos da igreja, para, somente depois, irem votar. Ele pergunta:

— Quem vota no Centro? Quem vota em São João de Meriti e Belford Roxo? Lá, vocês também podem fazer boca de urna. Quarenta porcento da população não sabem em quem votar. É nessa indecisão que a gente vai fazer a diferença. Amém, gente?

E prossegue:

— Meu Deus, nesse domingo, principalmente às 9h30m, nós vamos receber a água consagrada e todos os bispos do Brasil. Vamos concentrar todas as nossas forças para amarrar todos os demônios que queiram atuar. Então, você, que está com a sua oferta de R$ 100, de R$ 50 ou de R$ 10, venha trazer aqui e lavar as suas mãos.

Em seguida, Júnior Reis afirma que Pezão comprará votos deliberadamente, de sábado para domingo:

— É isso o que eles fazem na madrugada de sábado para domingo. Vocês sabem do que eu estou falando, não sabem? Voa dinheiro pelo céu, porque eles saem comprando os votos das pessoas. E o que não falta para o Pezão é dinheiro. A máquina está na mão dele. Então, eles vão sair distribuindo dinheiro de sábado para domingo. Uma senhora da igreja me procurou com R$ 50 na mão: “Bispo, o que que eu faço? Eu voto no cara ou não?”. Eu falei: “Você vai no altar, pede perdão e vota no nosso. Senão, a senhora está fazendo que nem Barrabás”. Quem entendeu?

Responsável por uma das maiores catedrais da Universal no Rio, o pastor Reis concluiu sua pregação com uma oratória inflamada em favor dos candidatos evangélicos:

— Agora é reta final, e a igreja precisa de vocês. Deus, nós não podemos perder! Amarra o principado chefe que atua no governo e está rindo agora! As nossas mãos, que são a mão de Deus, vão fazer a diferença! Nós vamos fazer a maior boca de urna do Rio e da nossa Igreja Universal. Por isso, meu Pai, abençoa o Crivella, 10! Abençoa a Rosângela, 1033, e o Benedito Alves, 15789. Amanhã o Crivella vai estar aqui às 10h.

PARA MP, INDÍCIO DE ABUSO DE PODER

A candidata Rosângela Gomes (PRB), citada por Júnior Reis, almeja uma cadeira na Câmara dos Deputados e é a principal cabo eleitoral do Crivella na Baixada Fluminense. Momentos antes de começar o último culto daquela noite, duas mulheres distribuíam na calçada em frente à catedral um jornal com prestação de contas de Rosângela e de Crivella, além de diversos santinhos.

Segundo o procurador eleitoral auxiliar Sidney Madruga, da Procuradoria Regional Eleitoral, houve diversas irregularidades na mesma noite. O magistrado afirma que, para o Ministério Público, o discurso do bispo em favor dos candidatos e a panfletagem na calçada da igreja são, juntos, um indício de abuso de poder político e econômico, que pode resultar na cassação de um eventual mandato dos candidatos beneficiados. Madruga lembra também que boca de urna é crime.

— A propaganda de boca de urna é crime desde 2006 e pode resultar em pena de seis meses a um ano de prisão para quem for condenado. No caso do bispo Júnior Reis, pode-se dizer que houve uma incitação ao crime eleitoral, previso no artigo 286 do Código Penal. Isso não pode acontecer. Precisamos ter acesso à gravação do culto — enfatiza Madruga.

De acordo com as normas para as eleições (Lei 9.504/97), é proibida a propaganda em bem de uso comum, como templos, centro comerciais e cinema:

— Para mim, está bem caracterizado o ilícito eleitoral da propaganda irregular, que pode render multa de R$ 2 mil a R$ 8 mil ao infrator — explica o procurador.

Marcelo Crivella se defende, dizendo que, durante seus 12 anos de vida pública, nunca pediu voto dentro da igreja e, diz ainda, que não tomou conhecimento do fato abordado pela reportagem. Rosângela Gomes afirma que desconhece a atitude tomada pelo pastor citado, tampouco sua campanha tinha em sua agenda qualquer ação de propaganda dentro da igreja. Pezão não quis comentar o caso. (Colaborou Rafaela Marinho)

Fonte: O Globo

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